Meus dias sem sol

Escrever para enxergar

É importante para mim mostrar o que estou passando. Quando escrevo, consigo enxergar com mais clareza as coisas que já aceitei, os limites que ultrapassei e a dor que venho carregando. Ao reler os primeiros quatro posts, percebo que falei apenas de 2025 e ainda há tanto para contar. Imagino quando eu começar a escrever sobre 2023 e 2024…

Gritos que atravessam paredes

Quando meu esposo grita, todos os vizinhos escutam. E o pior é que ele não sente vergonha de ser descontrolado e desequilibrado. A mãe dele é exatamente igual: dramática, explosiva, barulhenta. Os dois gritam, os dois ofendem, os dois destilam palavras que eu nunca imaginei ouvir de alguém dentro de uma casa. O pai dele, coitado, já ouviu de tudo e ainda ouve. O que eu passo também está muito além do razoável.

Mantendo a paz a qualquer custo

Na maior parte do tempo, tento manter a paz. Faço praticamente tudo dentro de casa para não dar motivo a reclamações e, assim, conquistar alguns momentos de tranquilidade. Mas não é fácil. Como você sabe, até hoje não consegui trabalho aqui. E me pergunto todos os dias: quando vou ter uma oportunidade? Trabalhar seria mais que ganhar dinheiro: seria poder sair de casa, respirar outro ar, conviver com pessoas diferentes, com quem eu não precisasse lidar com toxicidade o tempo todo.

Reclamações sem fim

Quando estamos sozinhos, às vezes consigo fazer com que os dias sejam bons. Mas ele tem uma compulsão em reclamar de tudo. Dou um exemplo: se a internet cai por alguns segundos, a casa inteira se enche de xingamentos. Se vai trocar uma lâmpada e algo não dá certo de imediato, ele explode. Até Deus vira alvo das palavras dele.

Você percebe a gravidade disso? Pequenas situações viram tempestades de raiva e xingamentos. É uma energia negativa constante, que enche cada canto da casa.

Pedidos negados

E não é só dentro de casa. Quantas vezes pedi para ele me levar para passear, só um pouco, perto de casa mesmo. A resposta quase sempre foi: não dá, a gasolina é cara. Como se o fato de eu não trabalhar anulasse meu direito de sair, de viver. A conta de não ter emprego acaba caindo sempre sobre mim.

Fiquei 8 meses implorando para sair e, neste período, quando ainda morávamos em um apartamento de aluguel, nossas saídas eram quase sempre na casa dos pais dele. 

A rotinha com os sogros

Ele nunca teve a liberdade de não ir na casa dos pais uma vez por semana. Como escrevi em outro post, eles controlam tudo, absolutamente tudo. Então, uma vez por semana estávamos lá.

Imagine uma mulher que procura todos os motivos para que sintam pena dela. Inventa dores, faz cenas, manca, grita, se lamenta. Quando for verdade, ninguém acreditará, essas são palavras do meu esposo. 

Falei disso em confidência com uma amiga dela, que me disse: Eu não sei como você aguenta!  e isso foi antes mesmo de nós morar na parte de baixo da casa dos pais.

Não falo para julgar, mas são situações absurdas. Agora, a mãe dele está dizendo que está esquecendo tudo. E eu penso: ela atrai isso para si. E quando for verdade? Infelizmente, ninguém vai acreditar.

Hoje moramos na parte de baixo da casa dos meus sogros. São dois espaços separados, onde a cozinha e a sala ficam no mesmo ambiente, que é bem pequeno. Temos um quarto, e o banheiro fica fora de casa (o que realmente pesa para mim). No geral, sou muito grata aos meus sogros, pois, se não fosse por eles, não sei onde moraríamos.

Preciso compartilhar também a minha sensação: acredito que eles fizeram isso mais para manter o controle sobre a vida do filho, (como sempre fizeram desde o primeiro casamento dele) do que por pura generosidade. Digo isso porque, embora sempre tenham tido condições de nos ajudar com um empréstimo para continuarmos no aluguel em que estávamos, escolheram essa solução. Então, sim, sou grata por termos um teto, mas no fundo sinto que essa “boa ação” foi mais por interesse deles do que pelo bem-estar do próprio filho.

Entre presença e provocação

Fiz essa pausa para você entender por que eu não gostava de ir todo fim de semana na casa dos sogros. Mas, segundo meu esposo, ele já havia dito que eu não gosto de reclamações, lamentações, que prefiro ser positiva em tudo.

Gente, como eu poderia ser positiva? Agora estou rindo kkkkkk.

Um detalhe: quando eu não acompanhava ele na casa dos pais, meu esposo pegava o carro e levava a mãe para todo lugar. Isso significa que não tinha dinheiro para me levar a um simples passeio, mas para mãe para me provocar pelo fato de eu ter recusado ir, sempre tinha.

Olhares que ferem

Entre 2023 e agora, não consigo nem contar quantos xingamentos já ouvi. Por coisas banais, por situações em que eu nem deveria ser cobrada. Quando finalmente saímos, raramente não passo raiva. Muitas vezes tenho a impressão de que ele faz de propósito, para eu desistir de pedir para sair.

E como se não bastasse, encara outras mulheres na rua de um jeito desrespeitoso, humilhante. Chega a sustentar o olhar até que a pessoa perceba. Já aconteceu com meninas menores de idade, com mulheres mais velhas. Eu me pergunto: para que casar, então?

Dependência e vergonha

Já me vi em situações degradantes, que me marcaram profundamente. Saber que familiares, amigos, poderiam ter noção disso me faz sentir vergonha. Afinal, sempre fui independente no Brasil, e agora vivo uma realidade de dependência que me aprisiona. Não ter meu próprio dinheiro, não ter vida social, não poder sair sem medo do que ele vai fazer ou falar é uma tortura. 

E tem o plano de saúde. Como eu não trabalho, o meu é sempre o último da fila para ser pago. Já chegou a ficar com cinco parcelas atrasadas. Meu nome ficou sujo neste país onde eu deveria estar recomeçando. No Brasil, nunca passei por isso. Aqui, vivo essa humilhação.

Mentiras e desrespeito

A pessoa que deveria ser meu porto seguro é a primeira a me expor. Fala mal de mim para os pais, me chama de ciumenta, distorce as coisas. No trabalho também me expõe. E mente como se fosse normal, como se fosse pequeno.

Um exemplo: certa vez foi a uma consulta médica. Contou que havia ido a um doutor. Mais tarde, em uma briga, deixou escapar que era uma doutora, e ainda disse que era “bonita”. Se não havia nada demais, por que mentir? A resposta dele: porque você ficaria com ciúmes. E ainda tenta inverter, como se eu fosse a errada, a paranoica.

Ele já mentiu dizendo que não falava com a ex-namorada, já mentiu sobre ter ido a um restaurante encontrar uma amiga e também sobre ter pessoas inconvenientes na lista de contatos (ex-ficantes, ex-affairs). Entre outras mentiras que ao relatar as situações, você irá compreender melhor. Para cada uma dessas mentiras, a justificativa era sempre a mesma: porque eu sou ciumenta.

O problema não é ciúme. O problema é respeito. O problema é olhar para outras mulheres na rua, paquerar como se fosse solteiro, apagar mensagens de conversas, esconder coisas. Já aconteceu de apagar uma conversa inteira com uma moça só porque eu tinha pedido para que não mantivesse contato com ela. Depois ainda tentou justificar a mentira.

Onde foi que errei?

Eu me pergunto: por que me colocar nessas situações? O que eu fiz para merecer isso? Já fui amada, respeitada, já vivi relações saudáveis. Onde foi que errei?

Lembro de uma vez em um restaurante de sushi. Ele ficou olhando para uma menina brasileira, menor de idade. Quando o confrontei, disse: eu estava olhando como ela era feia. Esse é o nível da justificativa.

É vergonhoso. É desumano.

Cade o respiro? 

E eu sigo, presa a essa rotina de dias sem sol. Quantas vezes só quis sair para respirar ar fresco? Quantas vezes perdi dias inteiros da minha vida tentando não provocar explosões?

Meu sonho é simples: viver uma relação saudável. Uma vida em paz, sem intromissão da sogra, sem intromissão de ninguém na verdade, sem medo de humilhação em público, sem me preocupar se meu marido vai respeitar o nosso casamento.

Um grito de liberdade

Vejo tantos relatos no Instagram. Mulheres como eu, passando pelas mesmas dores. E me pergunto: como eles conseguem fazer isso com a gente? Como conseguem destruir autoestima, minar confiança, sufocar sonhos?

Eu jamais faria o que ele faz comigo. Mesmo se não trabalhasse, jamais trataria alguém assim.

Hoje, escrever é meu grito de liberdade. Aqui, nas palavras, posso colocar para fora o que me corrói por dentro. Aqui, não preciso encarar olhares que me questionam: por que você ainda permanece?

A resposta eu não tenho. Mas sigo escrevendo, porque talvez, entre estas linhas, eu encontre a saída que ainda procuro. No fundo, eu tenho esperança que tudo melhore! 

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