Entre o Amor e o Exagero

A vida como ela é

Aqui você lê uma pessoa real.
Uma pessoa bipolar, que vive intensamente os extremos do amor e da irritação, da paciência e da fúria. Minha vida é cheia de nuances, cheia de momentos em que me sinto transbordando de amor, mas também de situações que me deixam confusa, sufocada e até revoltada.

Viver assim, em constante movimento entre luz e sombra, não é fácil. Mas é a minha realidade.
Hoje quero compartilhar com você um pouco do que sinto sobre minha sogra, meu marido e até sobre um simples episódio do cotidiano: um adolescente andando de bicicleta sem as mãos.

Pode parecer banal, mas esse episódio revelou muito sobre como cada um enxerga o mundo e sobre como eu lido com os conflitos que me cercam.

A relação com a sogra: entre ternura e irritação

Às vezes eu amo minha sogra.
Olho para a idade dela, para as coisas que ela gosta de fazer, e sinto meu coração se encher de ternura. É como se eu conseguisse enxergar a mulher por trás do papel de sogra,  alguém que já viveu tanto, que também tem suas dores, mas que ainda busca participar da vida da família.

Quando penso assim, consigo ser paciente. Consigo valorizar o simples fato de ainda termos convivência e de podermos compartilhar momentos.

Mas em outros momentos, não consigo entender.
Ela se torna controladora, faz perguntas que não deveria, invade nossa privacidade de forma desconfortável. Quer saber o que comemos, o que vamos comer, quem está em casa, quem saiu. É como se precisasse ter domínio sobre tudo.
Até minha encomenda ela já abriu, mas vou relatar essa história em um outro post. 

E o que mais me incomoda: ela gosta de se colocar como vítima.
E eu me pergunto: por quê?
Somos mulheres, e sei que a vida já não foi fácil para ela. Mas por que reforçar esse papel de fragilidade, em vez de assumir a força que toda mulher tem dentro de si?

É um jogo constante entre a compaixão e a irritação. Entre querer abraçá-la e querer pedir distância.

Meu marido: amor e drama na mesma medida

Com meu marido, a história não é diferente. Vivo também entre dois extremos.
Há momentos em que o amo profundamente, em que penso: “Quero estar com ele para sempre”. São instantes mágicos, de conexão, em que sinto que encontrei meu lugar no mundo.

Mas, em outros, me dá vontade de explodir.
Ele pode ser dramático, escandaloso, mal-educado, e isso me consome por dentro. O pior é que ele nunca pede desculpas. Nunca.

Podemos ter uma briga feia, daquelas em que as palavras pesam, em que a raiva transborda. No dia seguinte, ele acorda agindo como se nada tivesse acontecido. Como se tudo estivesse em paz, como se as ofensas tivessem evaporado durante a noite.

Isso me machuca, porque parece que ele não reconhece o impacto das palavras.
E só pede desculpas quando eu insisto que deveria. Como se o peso da reconciliação estivesse sempre sobre meus ombros.

Esse comportamento me faz sentir muitas vezes sozinha, mesmo estando acompanhada.

O episódio da bicicleta: quando um simples gesto vira um conflito

Um exemplo claro disso aconteceu em um dia aparentemente comum.
Estávamos caminhando, quando passou por nós um adolescente pedalando sem segurar o guidão da bicicleta. Ele estava tranquilo, com total controle do equilíbrio. Para mim, era apenas um garoto se divertindo.

Mas meu marido reagiu de forma agressiva:

“Se ele vier pra cima de mim, eu espanco. Esse menino chega até a mãe muito machucado, mas não pela queda e sim por mim.”

Eu fiquei chocada. Achei um exagero completo.
Respondi: “Meu Deus, que absurdo. O garoto estava apenas se divertindo, passou reto, sem nem balançar a bicicleta para o nosso lado.”

Foi aí que a discussão começou.

Meu marido insistiu que era perigoso, que se fosse alguém da minha família no caminho e um acidente acontecesse, eu pensaria diferente.
E, no calor da discussão, chegou a dizer:

“Desejo que seu irmão sofra um acidente assim, para você entender a gravidade.”

Naquele momento, me senti atravessada por uma maldade gratuita.
Não consegui compreender como alguém pode usar exemplos tão pesados, desejar o mal a alguém que eu amo, apenas porque discordei de uma opinião.

Reflexão: andar de bicicleta sem as mãos é irresponsabilidade?

Aqui entra a pergunta central: andar de bicicleta sem as mãos é certo ou errado?

Minha visão é simples:

  • Não é o mais seguro, claro. O risco existe.
  • Mas muitas pessoas já sofreram acidentes mesmo segurando firme o guidão.
  • O adolescente que vimos estava sob controle, não atrapalhou ninguém, apenas se divertia.

O problema não é apenas a bicicleta, é a forma como interpretamos as situações.
Para alguns, aquilo foi irresponsabilidade. Para mim, foi apenas liberdade juvenil.

É importante lembrar que o risco está em todos os lugares. Pessoas tropeçam andando a pé. Motoristas colidem mesmo segurando firme o volante. Ciclistas caem mesmo com as duas mãos no guidão.
Então, por que transformar em um ato quase criminoso o simples fato de um jovem brincar de equilibrar-se?

O peso da negatividade e do exagero

O que mais me incomoda no meu marido é a forma como ele escolhe sempre a pior interpretação possível.
Ele não vê um garoto se divertindo. Ele vê um potencial criminoso em duas rodas.
E quando alguém discorda, ele precisa elevar a discussão a um nível insuportável de agressividade.

Esse excesso de negatividade cansa.
É como se algumas pessoas precisassem do drama para existir, como se viver em paz fosse sem graça.

E, sinceramente, eu não quero viver nesse campo de guerra permanente. Quero leveza. Quero aprender a olhar para a vida com mais serenidade.

O jantar com o amigo: quando a burrice se multiplica

Como se não bastasse a discussão entre nós, ele ainda comentou o episódio com um amigo.
E, pasme, o amigo apoiou:

“Você dirige sem as mãos?”

Comparação absurda!
Carro não é bicicleta.
O adolescente não colocou a vida de ninguém em risco real, ele apenas estava pedalando de uma forma diferente.

Naquele momento, me senti um peixe fora d’água.
Quando tento argumentar de forma lógica, percebo que muitas pessoas preferem se fechar em cenários de medo, preferem repetir frases sem pensar.

Criam comparações sem sentido apenas para justificar sua visão limitada.

Entre o amor e a loucura

Esse episódio simples me fez refletir muito.
Como é difícil conviver com pessoas que não aceitam opiniões diferentes.
Como pode ser exaustivo estar ao lado de alguém que prefere desejar o mal, em vez de simplesmente discordar com respeito.

Preciso deixar claro: não apoio esse tipo de comportamento. Não acho bonito, não acho que seja algo que uma mulher deva aceitar. Eu mesma me sinto presa nessa relação, entre a dependência emocional e a falta de autonomia financeira. E isso me mantém nesse ciclo, mesmo sem concordar com ele.

Não desejo para nenhuma mulher o que eu vivo.
Não quero que ninguém acredite que uma pessoa agressiva vai mudar só porque há momentos bons no meio de tantos ruins. Esses momentos existem, sim, mas não compensam a dor que o desequilíbrio traz.

A vida é feita de contrastes

Minha vida é um contraste constante.
Entre amar e odiar, entre rir e chorar, entre sentir paz e desejar fugir.
O episódio da bicicleta sem as mãos foi apenas um detalhe, mas escancarou algo maior: a dificuldade das pessoas em lidar com opiniões diferentes, a tendência de transformar divergências em guerras pessoais.

Eu sigo tentando encontrar meu equilíbrio nesse caos.
Mas não quero que outras mulheres pensem que é saudável aceitar ofensas, falta de respeito ou agressividade como se fosse algo normal. Não é.
Se há algo que posso deixar como mensagem, é: não aceite menos do que você merece.

Eu sigo buscando minha saída, e sigo acreditando que existe uma vida com mais respeito, com mais leveza e com mais amor verdadeiro.

Se essa mensagem tocou você....

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