Entre Linhas e Silêncios: um início

Entre Linhas e Silêncios: um início


Entre linhas e silêncios: Um início, É a explicação de quando você chega até este espaço, talvez espere encontrar um rosto, uma identidade, uma história ilustrada por fotografias pessoais. Mas antes de tudo, preciso esclarecer: as imagens que acompanham este blog não são minhas. Elas são símbolos, representações que ajudam a dar cor e forma ao que escrevo, mas não me revelam. Fiz essa escolha porque o que importa aqui não é a minha aparência, nem onde estou, mas sim aquilo que vivi, as marcas que carrego e a forma como elas continuam me transformando.

Este blog é, acima de tudo, um lugar de memória e de coragem.
É onde decidi escrever sobre experiências que por muito tempo calei. Experiências que, muitas vezes, me consumiram em silêncio. Eu não compartilhei com minha família, e confesso: tenho vergonha de algumas delas. Vergonha por ter aceitado o que jamais pensei em aceitar. Vergonha por ter permitido que o desprezo, a humilhação e a dor invadissem espaços que deveriam ser de amor e respeito.

Mas também compreendi que, se eu continuar calada, essas marcas se tornam mais pesadas, como pedras invisíveis nos bolsos da alma. Então, escrever é a forma que encontrei de respirar. É uma tentativa de transformar feridas em palavras, de dar sentido ao que parece não ter. Ao escrever, descubro que nomear a dor já é, de alguma maneira, começar a libertá-la.

O peso do silêncio

Durante muito tempo, acreditei que guardar tudo para mim era a escolha mais segura.
Calar significava não expor, não causar conflitos, não envergonhar ninguém. Mas o silêncio tem um preço alto: ele grita dentro de nós. Ele cresce em corredores internos, se infiltra no corpo, tira o sono, distorce memórias. Cada vez que aceitei algo que me feriu, um pouco de mim se perdeu. Cada vez que fingi que não doía, carreguei uma parte da dor que deveria ser dividida.

Conviver com meu esposo de outra nacionalidade, me trouxe aprendizados, é verdade, mas também deixou marcas difíceis. Houve momentos em que me senti invisível, em que fui diminuída. Conviver posteriormente com os meus sogros, senti ainda mais que a minha privacidade foi invadida, se tornou sufocante. Situações que jamais imaginei passar se tornaram parte do meu dia a dia. E aceitar tudo isso me trouxe um conflito profundo comigo mesma: porque, no fundo, eu sabia que merecia mais respeito, mais cuidado, mais amor.

O silêncio, que parecia me proteger, na verdade me afastava de mim mesma. Percebi que quanto mais eu calava, mais eu me distanciava da mulher que eu sou, de como fui criada, de como sempre fui respeitada e por isso, aqui estou. 

O reflexo no espelho

Talvez a parte mais difícil de escrever seja esta: admitir que muitas vezes detesto a versão de mim mesma que aceitei construir nesse contexto. Fiz coisas que não correspondem ao que acredito. Permiti situações que feriram minha essência. E mesmo assim, continuei.

Não falo isso como quem busca pena, mas como quem busca compreensão. Porque todos nós, em algum momento, carregamos decisões das quais não nos orgulhamos. Às vezes por medo, às vezes por necessidade, às vezes porque acreditamos que não há escolha.

No meu caso, continuei porque, entre tantas dores, também existiam vínculos que me prendiam. Há o amor pelo meu esposo, tenho ainda a esperança de que as coisas mudem, e também a ideia de que suportar era o caminho. Mas suportar não é o mesmo que viver. Sobreviver não é o mesmo que florescer. O espelho, em muitas manhãs, me devolveu um rosto cansado,  não apenas pelo tempo ou pelas obrigações, mas pelo esforço de sustentar um silêncio que me pesava mais do que qualquer palavra poderia pesar.

Entre dores e palavras

Escrever aqui é um ato de resistência.
É a maneira que encontrei de ressignificar tudo o que passei e que infelizmente ainda passo. Cada palavra é como uma pequena lâmina que abre espaço para o ar entrar na ferida e, pouco a pouco, cicatrizar.

Este blog não é sobre expor nomes, apontar culpados ou buscar vingança. Não. Ele é sobre a minha experiência, nua, frágil, contraditória. É sobre falar de dores que muita gente prefere esconder, mas que fazem parte da vida de tantas pessoas.

Porque eu sei que não estou sozinha. Sei que há muitas outras pessoas que também carregam humilhações, desprezos, invasões e dores silenciosas. Talvez, ao ler minha história, alguém se reconheça. Talvez alguém encontre coragem para falar das próprias feridas. Talvez alguém perceba que não é fraqueza sentir dor, e sim humanidade.

E se uma única pessoa encontrar força por meio destas linhas, já terá valido a pena.

O que você vai encontrar aqui

Ao longo dos posts, vou compartilhar fragmentos da minha história:

  • momentos em que fui silenciada, mas também instantes em que encontrei voz;
  • situações em que fui diminuída, mas também lembranças de quando me levantei;
  • dores profundas, mas também os pequenos sopros de esperança que ainda me sustentam.

Você não vai encontrar, aqui, descrições de lugares, nomes ou detalhes que identifiquem pessoas. Esse não é o objetivo. Meu desejo é escrever sobre sentimentos, sobre as marcas que ficam, sobre os aprendizados que surgem até mesmo das piores experiências.

E se você chegou até este texto, quero que saiba: a intenção não é chocar, mas compartilhar. Não é me esconder, mas me proteger. Dividir palavras é, para mim, a forma de retomar o fio da minha própria história.

Aceitação e transformação

Talvez a grande pergunta seja: por que escrever agora?
E a resposta é simples: porque não quero mais carregar sozinha.

Aceitei muitas coisas. Mais do que eu mesma imaginava suportar. Mas escrever é o meu jeito de não aceitar mais em silêncio. É o meu jeito de dizer: isso aconteceu, me feriu, mas não vai me definir para sempre.

Sim, as dores existem. Sim, houve desprezo, humilhações, invasão de privacidade. Mas também existe a vontade de me reconstruir. E, de algum modo, escrever aqui é dar início a essa reconstrução.

Transformar-se não é apagar o passado, mas dar a ele outro significado. É olhar para trás sem se aprisionar. É perceber que não sou apenas a soma das dores que vivi, mas também a força que nasceu delas.

Um convite ao leitor

Se você está lendo este texto, convido você a percorrer comigo esse caminho.
Não prometo histórias leves, nem sempre bonitas. Mas prometo sinceridade. Prometo palavras verdadeiras, mesmo quando elas doem.

Talvez você se reconheça em alguns trechos. Talvez não. Mas espero que, de alguma forma, essas linhas te façam refletir sobre suas próprias escolhas, suas dores, seus silêncios.

No fim, este blog é sobre mim, mas também pode ser sobre você.
Porque todo mundo carrega cicatrizes invisíveis.
Todo mundo já aceitou algo que não queria.
Todo mundo já silenciou dores que mereciam ser ouvidas.

E assim começa este espaço.
Entre linhas e silêncios, entre sombras e luzes, entre aquilo que me feriu e aquilo que me sustenta.
Este é o primeiro passo de uma jornada que não sei aonde vai me levar, mas que já é, por si só, um ato de coragem.

Obrigada por estar aqui. 🌹

 

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